Fantasia

“Nesse sentido, Alexandre Guerra – consolidado autor de trilhas sonoras em nível internacional – faz “literatura musical”. Ok, ao longo da história da música muitos compositores também “contaram” histórias, das “Quatro Estações” de Vivaldi a “Scheherazade” de Rimski-Korsákov.

Desde o momento em que a música instrumental foi eleita como prima donna da arte dos sons (invertendo o que até o final do século 18 imperara, quando era considerada música inferior, porque lhe faltavam as palavras), por obra e graça dos românticos do século 19 quem conta estórias é injustamente etiquetado num degrau abaixo do Olimpo da música abstrata, “autônoma”.

Inúteis maquinações intelectuais. De um jeito ou de outro, todos – eu disse todos – os compositores sempre contaram estórias. Três exemplos matadores. Bach e sua famosa Chacona, da Partita no. 2 para violino solo: ele embutiu esta chacona como réquiem à morte de sua primeira mulher, Barbara. Beethoven expressou sua idolatria por Napoleão em sua Sinfonia Eroica, onde “pintou” os ideais da Revolução Francesa. E a música mais célebre do século 20 conta uma estorinha do folclore russo: o sacrifício de uma virgem para fazer renascer, a cada ano, a primavera. Foi o que fez Stravinsky na “Sagração da Primavera”.

“Portanto, o CD “Fantasia” de Alexandre Guerra, pertence à mais nobre das linhagens musicais de todos os tempos: a da música literária, ou seja, a que conta sempre uma história (ou estória). Apresenta quatro obras: um concerto para violão e orquestra e quatro composições para cordas.”

João Marcos Coelho