O álbum Vera Fábula — do latim “história verdadeira” — é uma ode à arte eterna de contar histórias. Sua voz é a do poema sinfônico, forma que floresceu no século XIX, entrelaçando música e narrativa em um só sopro. Cada peça nasce de um mundo de palavras — ora mito, ora literatura. Nesta obra, ambos os reinos se encontram.
A peça de abertura, “A Lenda do Boto”, emerge das brumas da Amazônia, ecoando o antigo mito do golfinho do rio que, sob a luz da lua cheia, torna-se um homem de beleza fascinante — apenas para seduzir mulheres e arrastá-las ao eterno abraço do rio.
Em meio a uma orquestração quase impressionista, o tema do Boto emerge no violoncello solo, e é seguido por episódeos musicais numa forma rapisódica que prentende desenhar os vários quadros da história: a festa, o encontro, a sedução… para se esvanecer de forma delicada e minimalista ao final, quando o boto conduz a moça ao fundo do rio.
O segundo poema sinfônico apresentado, é O Conde de Monte Cristo, forjado nas páginas imortais de Alexandre Dumas: a história de Edmond Dantès, um jovem marinheiro traído por inimigos invejosos, que trama sua vingança — uma jornada de desespero, justiça e redenção.
Marcado pelo estilo predominantemente romântico do final do século XIX, a música aqui prentende situar o ouvinte no tempo em que a história se passa. Nesta obra, dividida em três movimentos, a forma do poema sinfônico dialoga com formas tradicionais da música de concerto, como a forma sonata, no primeiro movimento. A cada um dos personagens, Edmond Dantès e Fernand Modego, é destinado um tema que se desenvolve, contrapõe e recapitula, à serviço da narrativa, como propõe o poema sinfônico, em sua condução programática.
Conforme sugere o título dos movimentos: I. Nobreza, Inveja e Traição – II. Prisão na Ilha, Aprendizado e Fuga – III. A Vingança. A peça apresenta a trama fazendo recorte dos momentos marcantes da história, e os dispondo de forma cronológica em sua narrativa.
